terça-feira, 21 de julho de 2009

Périplo por um circuito etílico-afetivo


Kodamasan, o japonês diagramador do Memorial, fez para mim este cartaz sobre o lançamento do livro "O Filósofo Voador". Lá fui eu para a Vila Madalena com fita adesiva e tesoura na mão. A minha idéia era fincar minha bandeira nos bares que freqüento. Comecei, claro, pela Mercearia São Pedro. As mesas tomadas por pessoas de preto discutindo intensamente as artes, a política, o mundo. Colei o Filósofo em uma parede metálica atrás delas. Clima de decadência com elegância, ambiente largado sem se levar a sério, mas estimulante. Procurei outros lugares da Mercearia, mas os corredores entre livros e mantimentos estavam tomados de objetos, histórias, devaneios e desejos.

A próxima parada foi o Bar Filial. O cartaz ficou lá, em uma porta ao lado dos banheiros. No Bar Genésio em frente, idem num corredor estreito. O garçom me desejou boa sorte com o livro. Depois fui ao São Cristóvão, onde rolava uma jam animada. Genial e Galpão do Circo completaram meu circuito.

Por fim, a padaria CPL, onde tudo começou. É ali que se passam várias cenas do livro. Por mais que disfarcemos, a gente sempre escreve sobre a gente mesmo...

domingo, 19 de julho de 2009


Cínico



O homem que vivia como um cão


Hoje seria normal, mas os atenienses de 2400 anos atrás se espantaram com um cara que resolveu repentinamente morar dentro de um cântaro. Antes ele rejeitara os trajes, as maneiras de se portar e até o tipo de alimentação de seus contemporâneos. Diógenes de Sínope (413-323 a.C.) proclamara-se irmão não só dos homens, mas também dos animais. Dizia que as pessoas deviam levar a vida singela de um cão. Quando Alexandre Magno visitou-o, oferecendo-lhe ajuda, respondeu simplesmente "não me tires o sol". Essa doutrina prosperou com a decadência das cidades-estado gregas, conquistadas pelos macedônios. Saia de cena a filosofia clássica, que tentava dar conta do mundo do homem e das coisas, e surgia uma filosofia de fuga pessoal.

Diógenes foi o primeiro "cínico" (kynikós, canino). Os ensinamentos dele e de seu mestre, Antístenes (444-365 a.C.) - o "cinismo" - desprezaram valores e instituições da época (mercantilismo, religiões, polis, família, arte, filosofia...). Somente os bens interiores seriam seguros e proporcionam libertação do medo, da moral, dos desejos e da injustiça. Tão radical era o cinismo que levava a uma certa indiferença diante da vida. Daí, talvez, esse conceito ter ganho, com o tempo, sentido negativo. Atualmente só um cínico assumiria ser adepto do cinismo....


Este texto foi escrito por mim para a revista Viagem & Turismo na época das Olimpíadas de Atenas, em 2004. Também está publicado no blog http://rashcunho.blogspot.com. Agora que escrevi um livro sobre um homem que recusou - os motivos não importam aqui - a vida em sociedade dita normal, achei oportuno publicá-lo. Na foto acima, tirada pelo fotógrafo argentino Hernán Reig, estou fuçando por uma daquelas lojas de quinquinharias antigas situadas embaixo do Minhocão, em São Paulo.

Para adquirir o livro "O Filósofo Voador", publicado pela Editora Terceira Margem, mande um e-mail para eduardo.rascov@gmail.com

sábado, 18 de julho de 2009

Trapezista esquecido Dover Tangará tem sua história publicada em livro em Sampa


Meu primeiro blog (2005) chamava-se "Rashcunho". Para quem não sabe, meu apelido é Rash. No Perfil, era assim que me apresentava:

"Rashcunho é algo que ainda não está pronto. Não foi decantado, não passou pelo crivo do tempo. É uma preparação de alguma coisa que se quer. No caso, o itinerário de uma procura. Na Grécia Antiga, mas também no mundo dos afetos. Moro na filosofia mas passeio na poesia. O campo da prosa é o que me interessa investigar. É por onde me expresso, o que justifica minha adesão ao blogverso. Expor-me assim já é subir na caravana enquanto os cães ladram. Sou o Rashcunhador."


Meu segundo blog ganhou o nome "Eu palavra que significa muito para mim". Tentei justificá-lo da seguinte maneira:

"O nome do blog que acabo de criar é algo narcísico, eu sei. Mas verdadeiro. É também uma provocação. Guardando as proporções, René Descartes, pensador francês do séc. XVII, considerado o pai da Filosofia Moderna, fez algo parecido. Chegou à famosa conclusão "penso, logo existo". Foi a maneira dele escapar da "dúvida metódica" ou a armadilha de se perguntar infinitamente se as coisas existem de fato ou são apenas sensações ilusórias captadas por nossos frágeis sentidos. "Se pergunto é porque penso; se penso é porque existo". Fazer um blog é dizer que existo e que penso. E que isso significa muito pelo menos para mim."


Como o escasso leitor desse veículo notou, não sou bom de nome. Foi por isso que resolvi batizá-lo do jeito mais simples, com a graça que vim ao mundo.


Agora já posso ter um blog em meu próprio nome, pois estou lançando um livro, virei escritor. Esse é então um espaço para eu me comunicar com o mais escasso ainda leitor de "O Filósofo Voador"(é assim que se chama o meu primeiro livro). A obra saiu pela Editora Terceira Margem,de São Paulo. O lançamento oficial é no dia 24 de julho de 2009, às 19h, no Circo Roda Brasil, montado no Memorial da América Latina.

A gente põe um filho no mundo e já se equipa para defendê-lo do ataque alheio. Que sem dúvida vem do inesperado. Uma amiga me disse que qualquer pessoa que propõe algo objetivo vai despertar defensores entusiastas e inimigos furiosos.

"O Filósofo Voador" é um romance baseado na vida de Dover Tangará, um dos maiores trapezistas do Brasil. Conheci Dover em um período difícil de sua vida, morando nas ruas de São Paulo. Nos tornamos amigos.

Ele é um artista circense orgulhoso. Percebo que reluta em aceitar a idéia de que o livro conta sua fase gloriosa, no trapézio a toda altura do circo, mas também narra seu abandono pela família e amigos e recria algumas de suas peripécias para sobreviver com dignidade na grande urbe. Porque isso - a dignidade - ele não perdeu jamais.

Para adquirir o livro "O Filósofo Voador", mande um e-mail para eduardo.rascov@gmail.com