domingo, 19 de julho de 2009


Cínico



O homem que vivia como um cão


Hoje seria normal, mas os atenienses de 2400 anos atrás se espantaram com um cara que resolveu repentinamente morar dentro de um cântaro. Antes ele rejeitara os trajes, as maneiras de se portar e até o tipo de alimentação de seus contemporâneos. Diógenes de Sínope (413-323 a.C.) proclamara-se irmão não só dos homens, mas também dos animais. Dizia que as pessoas deviam levar a vida singela de um cão. Quando Alexandre Magno visitou-o, oferecendo-lhe ajuda, respondeu simplesmente "não me tires o sol". Essa doutrina prosperou com a decadência das cidades-estado gregas, conquistadas pelos macedônios. Saia de cena a filosofia clássica, que tentava dar conta do mundo do homem e das coisas, e surgia uma filosofia de fuga pessoal.

Diógenes foi o primeiro "cínico" (kynikós, canino). Os ensinamentos dele e de seu mestre, Antístenes (444-365 a.C.) - o "cinismo" - desprezaram valores e instituições da época (mercantilismo, religiões, polis, família, arte, filosofia...). Somente os bens interiores seriam seguros e proporcionam libertação do medo, da moral, dos desejos e da injustiça. Tão radical era o cinismo que levava a uma certa indiferença diante da vida. Daí, talvez, esse conceito ter ganho, com o tempo, sentido negativo. Atualmente só um cínico assumiria ser adepto do cinismo....


Este texto foi escrito por mim para a revista Viagem & Turismo na época das Olimpíadas de Atenas, em 2004. Também está publicado no blog http://rashcunho.blogspot.com. Agora que escrevi um livro sobre um homem que recusou - os motivos não importam aqui - a vida em sociedade dita normal, achei oportuno publicá-lo. Na foto acima, tirada pelo fotógrafo argentino Hernán Reig, estou fuçando por uma daquelas lojas de quinquinharias antigas situadas embaixo do Minhocão, em São Paulo.

Para adquirir o livro "O Filósofo Voador", publicado pela Editora Terceira Margem, mande um e-mail para eduardo.rascov@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário