sexta-feira, 22 de julho de 2011

TEXTO DE CRIS RODRIGUES NO BLOG http://interpretar.wordpress.com

Tenho pensado um pouco sobre esse negócio da ateísmo. Bom, o assunto não surgiu do nada assim, por iniciativa dos meus próprios pensamentos. Na verdade já faz muito tempo que ele aparece de vez em quando, mas agora resolvi escrever por conta desse texto que eu li semana passada. Não concordo com tudo que está ali, mas algumas ideias dá pra aproveitar. O que me motivou a atualizar esse blog, na verdade, foi a coisa da moralidade. Ou melhor, a forma com que as pessoas veem a moralidade dos ateus.

Não sei exatamente o termo mais correto pra se utilizar nesse momento. Me parece que os ateus, assim como os comunistas – que muitas vezes são a mesma pessoa, já que são ideias que me parecem complementares -, são vistos como amorais. Nesse texto que me despertou mais uma vez para o assunto, é citada uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo que eu não achei no site deles, mas ela parece fazer sentido. Diz lá que os ateus são o grupo mais discriminado socialmente. Os ateus, ainda segundo o texto, são os menos votados em eleições. Na verdade, os mais rejeitados. “Se você perguntar a um brasileiro em qual membro de grupo social ele não aceitaria votar de jeito nenhum, os ateus estamos, disparados, em primeiro lugar”, diz o autor do texto, Rafael Galvão.

Sempre me intrigou aquelas pessoas que acreditam que a outra é pelo menos um pouco boa, afinal, é tão religiosa. Ou que alguém que não tem fé em um deus qualquer não é capaz de atos de humanidade porque, bem, porque não acredita em um deus qualquer. Respeito as crenças, quase todas – menos aquelas que humilham, enganam com fins mais escusos, como conseguir dinheiro de gente pobre -, respeito mesmo. Acho que muitas vezes a religião pode servir como um apoio, uma forma mais fácil de enxergar a vida, e não acho errado buscar um jeito mais fácil de fazer as coisas. Só não consigo acreditar nesses deuses que são tantos por aí, cada qual com sua legião de apóstolos, seguidores, santos e o escambau, simplesmente porque não faz sentido, não tem lógica. (Se bem que às vezes quase desisto da coisa pra não ter que dizer que sou atéia – eita palavra mais feia!) Mas acredito profundamente na humanidade. Acredito que os homens são em essência bons e que pode sair muita coisa boa ainda, que a gente pode melhorar, pode arrumar as coisas erradas. Não é tão difícil assim. Basta ter um pouco de solidariedade.

Essa palavra… solidariedade. Ela me marcou hoje. E aí vai mais uma motivação pra eu vir escrever esse post. Li hoje à tarde uma matéria na edição desse mês da Brasileiros. Era sobre um jornalista comunista inglês, Peter Godfrey, que veio ao Brasil e queria muito entrevistar o grande Oscar Niemeyer. Dizia lá na matéria que é de Hugo Chávez a afirmação de que Fidel Castro e Niemeyer são os dois últimos comunistas do mundo. No auge dos seus 102 anos, ele continua comunista. Pois bem, o jornalista inglês também se diz um, e há tantos outros por aí – alguns de meia tigela -, mas isso não vem ao caso agora.

Não quero criar uma falsa relação entre comunismo e ateísmo. Mas não dá pra negar que essas duas… hmm… ideologias (?) estão interligadas. A maioria dos comunistas que se vê por aí – não só hoje, mas na história, é atéia. Não digo todos porque há exceções, mas elas chegam a ser estranhas, como se uma coisa não combinasse com a outra. E o comunista também recebe esse olhar crítico, o mesmo destinado ao ateu, e possivelmente pelo mesmo motivo. É a mesma visão de amoralidade (ou imoralidade, nesse caso?). Comunista não é aquele que come criancinha?

Niemeyer construiu umas quantas igrejas, capelas, catedrais, até mesquita ele já projetou. Mas não acredita em nenhuma dessas crenças, simplesmente porque não faz sentido. Ainda assim, constrói as igrejas com um certo carinho, pensando na sua família tão católica, respeitando. Ele conta, em uma das perguntas da entrevista que o repórter de Brasileiros, Eduardo Rascov, e o repórter inglês conseguiram fazer, que uma vez um jornalista do Pasquim lhe perguntou qual palavra ele prefere e ele respondeu “solidariedade”. O texto da Brasileiros termina assim: “Ainda em São Paulo, quando perguntei a Peter Godfrey qual a razão dele permanecer comunista, ele me respondeu com uma palavra: “Solidariedade”. Agora sei o que via desde o início fora de lugar nele. É a solidariedade, algo raro hoje em dia”. Realmente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário